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TEXTOS DO PROJETO >
PINTURA NÃO É PINTURA NA OBRA DE ERNESTO BONATO
Bené Fonteles, 2020
Pintura não é pintura na obra de Ernesto Bonato.
Ele não pinta pessoas, mas seres afeitos a ter uma alma que às vezes desconhecem.
Ele descobre!
Ele pinta a alma de seres que nunca se miraram no espelho do Grande Espírito. (...)
Felipe Martinez, 2020
A pintura de Ernesto Bonato não é só feita por ele, envolve pelo menos mais dois atores. Para começar, o próprio artista, que inaugura a tela com golpes de pincel carregados com suas tintas solúveis em água, deixando um rastro vertical que escorre de cima para baixo. (...)
sou eu neste retrato
afirmou o velho
recobrando os sentidos
é ele também
repetiu baixinho
notando os
batimentos cardíacos
surpreso por acordar e
encontrar uma
pintura sobre
as mãos
rígidas
como tocos
de rio (...)
TODO RETRATO É UM RIO
Ernesto Bonato, outubro de 2016
O
que faz com que duas pessoas se encontrem toda semana, sempre no mesmo
horário, durante meses ou mesmo anos a fio para se sentarem uma diante
da outra quase imóveis, quase quietas, por duas horas ou mais, cúmplices
em um propósito que se revela de saída impossível: o de fixar em uma
única imagem a inescrutável face humana? Quem sabe dos motivos reais? (...)
O RIO IMORTAL
Ulysses Bôscolo, 3 de julho de 2018
sem camisa
em pé
descalço sobre o tapete
ponho as mãos no bolso
aperto algumas moedas
fico ligeiramente de lado para o cavalete
como uma canoa (...)
LER MAIS(SEM TÍTULO)
Ulysses Boscolo, estiagem de inverno, 27 de julho de 2018
morde
a
boca
na
lã
do
rosto
impaciente
atravessa
o (...)
TEXTOS DE REFERÊNCIA >
SON LOS RIOS
Jorge Luis Borges in Los conjurados, 1985
Somos el tiempo. Somos la famosa
parábola de Heráclito el Oscuro.
Somos el agua, no el diamante duro,
la que se pierde, no la que reposa.
Somos el río y somos aquel griego
que se mira en el río. Su reflejo
cambia en el agua del cambiante espejo, (...)
O ESPELHO
Esboço de uma nova teoria da alma humana
Machado de Assis. Papéis avulsos, 1882, Rio de Janeiro
Quatro ou cinco cavalheiros debatiam, uma noite, várias questões de alta transcendência, sem que a disparidade dos votos trouxesse a menor alteração aos espíritos. A casa ficava no morro de Santa Teresa, a sala era pequena, alumiada a velas, cuja luz fundia-se misteriosamente com o luar que vinha de fora. Entre a cidade, (...)
ABISMO, ELEVAÇÃO
Marcelo Coutinho, Casa-Canil, Hemisfério Sul, agosto de 2018
LOS ESPEJOS
Jorge Luis Borges in El Hacedor, 1960
Yo que sentí el horror
de los espejos
no sólo ante el cristal impenetrable
donde acaba y empieza, inhabitable,
un imposible espacio de reflejossino ante el agua especular que imita
el otro azul en su profundo cielo
que a veces raya el ilusorio vuelo
del ave inversa o que un temblor (...)
NARCISO
Ovídio. Metamorfoses, canto III, versos 339 - 510
Este, famoso pelas cidades da Aônia,
respondia infalível a quem o inquiria.
A primeira a sentir-lhe a veracidade,
foi cerúlea Liríope, que outrora, em curvo
curso enlaçou Cefiso, e, presa na corrente, (...)
O ESPELHO
João Guimarães Rosa, Primeiras estórias, 1962
Se quer seguir-me, narro-lhe; não uma aventura, mas experiência, a que me induziram, alternadamente, séries de raciocínios e intuições. Tomou-me tempo, desânimos, esforços. Dela me prezo, sem vangloriar-me. Surpreendo-me, porém, um tanto à-parte de todos, penetrando conhecimento que os outros ainda ignoram. O senhor, por exemplo, que sabe e estuda (...)
O LONGO DIÁLOGO
Marcelo Coutinho, Casa-Canil, agosto mês dos ventos, hemisfério sul, 2018
rios
palavras
ventos
assobios
ecos
montanhas
sabem se desfazer
corvinas
pescadas
cascudos
sambaquis
urubus